Postagem:
“Se existe uma flor que floresça
apenas uma noite,
ela não nos parecerá menos formosa por isso.”
Freud, 1916
É de costume
que, ao terminar um ano, façamos planos para o próximo que se inicia. Assim
vamos fazendo, ao observarmos a passagem do tempo. Claro que um ano nunca é
igual ao outro, porém, este ano de 2020, sem dúvida nenhuma, foi diferente,
marcado por uma “tragédia”, que é esta pandemia, na qual estamos vivendo.
Todos nós!
E, de um
certo modo, nos faz perceber quem somos e o quanto somos pequenos e
vulneráveis, afinal, somos humanos. Mas, é também por sermos humanos, que temos
esta capacidade de lidar com aquilo que é trágico e que nos assalta, a
capacidade de adaptação às adversidades e mudanças. Uns mais, outros menos..., mas,
seguimos em frente.
Ao refletir
sobre esta passagem de ano, passagem de tempo, lembro e trago aqui, um pequeno trecho
do artigo de Freud (1916) sobre a transitoriedade.
Assim ele
inicia o texto:
“Algum tempo atrás, fiz um passeio por uma
rica paisagem num dia de verão, em companhia de um amigo taciturno e de um
poeta jovem, mas já famoso. O poeta admirava a beleza do cenário que nos
rodeava, porém não se alegrava com ela. Perturbava-o o pensamento de que toda
aquela beleza estava condenada à extinção, pois desapareceria no inverno, e
assim também toda a beleza humana e tudo de belo e nobre que os homens criaram
ou poderiam criar. Tudo o mais que, de outro modo, ele teria amado e admirado,
lhe parecia despojado de valor pela transitoriedade que era o destino de
tudo...” “...Contestei a visão do poeta pessimista”, disse Freud, trazendo
uma visão mais otimista. “Valor de transitoriedade é valor de
raridade no tempo... É incompreensível, que a ideia da transitoriedade do belo
deva perturbar a alegria que ele nos proporciona. Quanto à beleza da natureza,
ela sempre volta depois que é destruída pelo inverno, e esse retorno bem pode
ser considerado eterno, em relação ao nosso tempo de vida.”
Concordo com
Freud.
Um dia
desses, ouvi de uma criança que “o Natal tem cheiro de pêssego”.
Pensei “o
Natal tem cheiro de esperança”.
Estamos
vivendo um momento de dor, mas com esperança.
Assim também
Freud (1916) termina seu artigo:
“Reconstruiremos
tudo o que a guerra destruiu, e talvez em terreno mais firme e de modo mais
duradouro do que antes”.
É tempo de
confraternizações, famílias, amigos, pessoas que sempre se reúnem para brindar.
Neste ano, especificamente, muitos brindes serão feitos através de uma tela de
computador, ou celular, vai faltar o abraço físico, vai faltar a presença, vai
faltar o cheiro, mas estes estão na memória, pois já os experimentamos e temos
a esperança de que de novo, e de novo, e quem sabe no Ano novo, possamos
revivê-los.
Natal, Ano
Novo, Boas Festas, cada um com suas crenças e costumes.
Celebram a
vida!
A música, a
poesia, a arte nas suas diversas formas de representar o belo e, também a dor
do humano.
Não podemos negar tudo o que estamos vivendo, pelo
contrário, é momento de experimentarmos o amor, a solidariedade, a amizade, enfim...
A Vida.
A vida é bela, nossa capacidade amorosa, como foi denominada
por Freud de “libido”, nos permite sonhar, nos faz esperar, não só no sentido
de aguardar, mais do que isso, gosto de usar o verbo “esperançar”. Esperançar é
construir, esperançar é não desistir.
É tempo de esperança!
É tempo de ESPERANÇAR!
IMAGEM: Jardim da residência de Freud em Londres/
Foto tirada por Gislaine B. Desidério