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O desenvolvimento do ser humano se constitui por uma série de períodos complexos, alguns de relativa tranquilidade e outros de grandes mudanças. Cada momento deste ciclo vital exige a construção de certas estruturas psíquicas que vão nos constituindo. O momento de passagem da infância para a adolescência talvez seja um dos mais turbulentos, principalmente em função das modificações do corpo, que acaba dando o tom e o colorido deste momento de vida.
O corpo, na pré-adolescência/adolescência, sofre uma metamorfose. Neste momento, a criança/adolescente sofre porque o corpo que ela habita passa a ser um estranho. Consequentemente, uma dentre as reações comuns é esconder-se, seja com o boné, com o moletom, com as roupas largas, com o gorro. É como se a mente ainda não estivesse sintonizada com o corpo que está surgindo, dando origem a uma sensação de que algo está estragado; a mente ainda não é capaz de simbolizar e colocar em palavras o que está acontecendo, gerando muitas angústias.
Também é neste momento que a criança/adolescente, que até então vivia certa androginia, vai se reconhecer, dentro de suas escolhas, naquilo que se refere à sexualidade. Esta última, que desde o nascimento até o envelhecimento nos demanda trabalho psíquico, se encontra em um momento muito crítico e árduo. Trata-se de uma eclosão das forças pulsionais, que durante o período de latência estavam silenciadas e, predominantemente, comprometidas com a sublimação. Dependendo de como o pré-adolescente se sente com este corpo e com esta eclosão, podem ocorrer crises dramáticas que necessitarão de muita continência interna e externa.
Esta travessia da infância para a adolescência traz importantes implicações no processo de construção e também de desconstrução da identidade, que é definida como a vivência ou a sensação em nós de sermos nós mesmos, bem como tudo que nos permite ser diferente perante aos demais. Nesta trajetória, o pré-adolescente está em busca de uma identidade própria, o que acontece junto com várias mudanças corporais e psíquicas, acompanhadas por uma nova forma de se relacionar com os pais e o mundo, o que, necessariamente, acarreta na realização de um luto pelos pais da infância e pelo corpo infantil.