Acordado, fui tomado por uma vivência semelhante ao de um sonho. Algumas imagens e memórias vagas e longínquas, numa somatória confusa, configurando algo inusitado à procura de se expressar. Como um processo avançado em vias de se revelar.
Esse estado de coisas era um piscar de alguma clareza interrompida por penumbras e escuridão, nele ecoando a pergunta feita por Einstein a Freud: "Freud, por que a guerra?". Essa pergunta fazia parte dessa curiosa atmosfera onírica. Outra questão se intrometia neste espaço, representada por um sentimento velado, difuso e impregnante. Tratava-se de algo como um pecado capital e original da humanidade.
Se fosse possível submeter este estado a uma tomografia, o exame mostraria a mente velada, como o pulmão na patologia causada pelo coronavírus. Chamava-me a atenção, nessa sucessão de impressões, a indagação que emergia: por que a crise do coronavírus mereceu esta ostentosa coroa, esse glamour, essa universalidade nunca vista antes em tantas crises que já vivemos?
Meu "sonho", mistura de vigília e consciência oniróide, experimentava como que a expectativa de uma grande revelação. Algo como o anúncio de uma grande sabedoria, que transcendia a nossa consciência explicativa e que proporcionaria um grande salto para a nossa civilização, livrando-nos da "guerra".
Já bem mais desperto, exclamo, numa conversa que ainda faço comigo mesmo: Não! O problema não é o coronavírus. Não! Nunca se viu nada igual. Crises de vírus, estamos enjoados de ver. Essa, a do coronavírus, é inusitada. Nada tem a ver com as explicações horizontais, utilitárias, de causa-efeito, oportunistas, geopolíticas, econômicas etc. Mas, sim, com um momento mágico em que o Universo Planeta Terra vive o seu momento glorioso de expressar e eliminar todo o veneno que acumulou através dos tempos.
Universalidade e grandiosidade, palco conquistado por esta atual crise, deram-lhe a possibilidade de tamanha catarse. Não houvesse tal monumental continente expressivo, de tamanha porosidade, correríamos o risco de sermos varridos da face da terra ou de nos tornarmos uma imensa civilização morta-viva, vivendo uma vida plena de ausência de sentido, o que seria um medonho pesadelo. Acordei convicto da sabedoria que comanda o nosso mundo.