Homenagem às mulheres pioneiras da psicanálise no Brasil | Grupo de Estudos de Psicanálise | Gep Rio Preto

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Homenagem às mulheres pioneiras da psicanálise no Brasil

Postagem: . 15 min de leitura

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Por MARIA APARECIDA SIDERICOUDES POLACCHINI

Membro do Grupo de Estudos de Psicanálise de São José do Rio Preto e Região

Psicanálise em Foco: Entrevista com Maria Aparecida Sidericoudes Polacchini

 

            Na publicação desta edição do Boletim decidimos homenagear as mulheres pioneiras da psicanálise no Brasil. Para representá-las trago esta entrevista com Maria Aparecida Sidericoudes, que nos conta sua trajetória dentro do universo psicanalítico; ela, pioneira da psicanálise na nossa região. Maria Aparecida Sidericoudes Polacchini. Psicóloga, Psicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e Membro Associado da mesma; Membro Efetivo com Funções Didáticas na Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto e no Grupo de Estudos Psicanalíticos de São José do Rio Preto e Região, onde atualmente está como Diretora do Instituto.

 

1 – Maria Aparecida. Você pode fazer um resumo do seu percurso desde a formação na USP em psicologia, até o momento que se identificou com a clínica e a psicanálise?

R- Regina, primeiramente muitíssimo obrigada a você e sua comissão pela oportunidade de contar um pouco de meu percurso na psicanálise, meu encontro com ela, o encantamento, as dúvidas, o envolvimento e prosseguimento num caminhar que posso definir como constante busca a me tornar um pouco mais humana como pessoa e analista.

Você me pede que lhe conte sobre meu percurso desde a formação em psicologia, na USP, em Ribeirão Preto. O fato é que tive contato inicial com filosofia e psicologia no curso de Magistério, em Rio Preto, de 1966 a 1968, onde exercícios de observação e introspecção foram essenciais para o que hoje chamaria de aproximações e apreensões de mundo interno e externo. Assim, fui considerando a possibilidade de um curso de psicologia, na universidade. Na família, tive duas tias maternas incentivadoras da psicologia.

Na USP, durante os cinco anos, 1970 a 1974, o que me tocou profundamente foi a matéria de Psicologia geral, onde tive contato maior com a filosofia, através de uma professora recém-chegada da Sorbonne. Também fiquei bastante estimulada com a psicologia social destacando temas filosóficos importantes, com o estudo das teorias psicológicas do desenvolvimento humano, os testes projetivos, especialmente o Rorschach para avaliação psicológica, o estudo da psicopatologia, das técnicas psicoterápicas e os estágios em clínica. Em psicopatologia e nos estágios em clínica, tanto na faculdade quanto em hospital psiquiátrico, me foi apresentada a visão psicodinâmica dos fenômenos, uma aproximação à psicanálise propriamente dita, que vim a estudar no Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo, de 1975 a 1977, quando tive contato com textos psicanalíticos, em curso de especialização.

 

2 – Se identificando com a psicanálise, qual a trajetória até chegar à formação na SBPSP?

R- Então, minha aproximação com a psicanálise foi gradativa. Quando ouvi pela primeira vez, na faculdade, um dos professores de psicopatologia falar de formação em Psicanálise, senti intensamente que esse era o caminho que gostaria de fazer, ao mesmo tempo, com uma forte impressão de que talvez nem conseguisse chegar a isso, pelos requisitos apontados. Entretanto, esse momento inicial de dúvida não me paralisou, preferi atender a esse ensejo, quando então, como que por um atalho, fui para o Sedes e me identifiquei mais profundamente com o que buscava, pois os professores do curso se não eram psicanalistas estavam sempre próximos da Psicanálise. Foi um período em que também iniciei um fecundo processo psicoterápico, de base analítica, que durou alguns anos, primeiras descobertas mais profundas de mim mesma, uma intimidade com o inconsciente jamais observada, uma das mais inquietantes experiências. Depois, em 1979, iniciei um curso de pós-graduação em psicologia clínica, na PUC, em Campinas, onde tanto a filosofia quanto a psicanálise eram predominantes. Fiz os dois anos de curso e no lugar do tempo dedicado à tese, iniciei meu primeiro processo analítico, em 1980, voltando-me, então, para a psicanálise. Nesse período que fiz o Sedes, já trabalhava em Rio Preto, na Faculdade de Medicina (FAMERP), em convênio com a Secretaria de Saúde Mental do Estado de São Paulo e viajava duas vezes na semana para São Paulo para o curso e para a psicoterapia. Comecei meu atendimento em hospital psiquiátrico, ambulatórios e também em clínica particular. Neste tempo, o chefe de departamento de psiquiatria e psicologia, Dr. Marden Ivan Negrão, trouxe por dois anos consecutivos, no mês de julho, dos Estados Unidos a Rio Preto, a Dra. Maria Villas-Boas Bowen, brasileira, assistente de Carl Rogers, para um trabalho psicoterápico em grupo, com os membros do departamento e sessões individuais. Realizei também com ela sessões psicoterápicas, cujas experiências emocionais foram transformadoras.

Nessa época, no Departamento de Psiquiatria e Psicologia da Faculdade de Medicina, conheci o querido Dr. Aldonio Ferreira de Faria Junior, que estava iniciando a formação psicanalítica em São Paulo, o primeiro entre nós a fazê-la e era um grande entusiasta da psicanálise, tanto que cultivou aqui e na região o pensamento psicanalítico teórico-clínico, também criando grupos de estudos. Participei de vários grupos de estudos com ele, além de supervisão por sete anos. Foi o idealizador do Centro Rio-pretense de Estudos Psicanalíticos, o nosso querido CREP, o primeiro a reunir psicólogos e depois psicanalistas de Rio Preto, trazendo mensalmente colegas da Sociedade de São Paulo para palestras e seminários clínicos. Tempo de grande efervescência da psicanálise aqui. Tomada por um lado por esse entusiasmo pela psicanálise e por outro pelas necessidades pessoais de continuidade de desenvolvimento, após o curso em Campinas, procurei em 1980, por indicação do Aldonio, o Dr. Junqueira, de Ribeirão Preto, para iniciar o que chamávamos de análise terapêutica. Nesse tempo deixei as atividades na Faculdade de medicina. Iniciei também supervisão com a Dra. Suad. À experiência de análise terapêutica, com quatro sessões semanais, de duração de cinco anos, seguiu-se a análise didática, quando ele se tornou analista didata na Sociedade de São Paulo. Então iniciei a formação psicanalítica em 1985, na SBPSP, encerrando o período da formação em 1992, quando apresentei meu segundo relatório e passagem a membro associado. Fiquei com Dr. Junqueira durante doze anos, uma experiência que ampliou sobremaneira meu olhar a mim mesma, ao outro, à clínica e à vida. A formação me deu a grata oportunidade de usufruir do conhecimento de pioneiros da psicanálise em São Paulo, alguns em seminários teóricos, outros de técnica, clínicos, supervisão: dona Virgínia Bicudo, Lígia do Amaral, dona Judith Andreucci, também, de outra geração, Fábio Hermann, Odilon Franco, Suad Andrade, Amina Maggi, Lenise Azoubel, David Azoubel, Yutaka Kubo, José Longman, Manoel Laureano, Deocleciano Bendochi, Antonio Sapienza e Stella Maris, na época recém-chegada de Brasília.

Gostaria de ressaltar aqui que a minha turma de formação, também foi fundamental para a manutenção de meu interesse psicanalítico, pois com eles trocava sempre ideias, com muita liberdade de expressão, pessoas muito caras, especialmente os queridos Martha Ribeiro, José Cesário, Myriam Vianna, José Francisco e Pedro Paulo, todos de Ribeirão Preto. Depois da análise didática realizei dois longos períodos de reanálise com Suad Andrade, em que busquei me aprofundar em questões essenciais. Tenho para mim que a experiência em psicoterapia me aproximou da consciência de mundo mental, as análises com Dr. Junqueira e reanálises com Suad foram de ampliação e aprofundamento dessa consciência, especialmente a capacidade de tolerar o desconhecido.

Em 1995 fui convidada pelo Dr. Junqueira e Dra. Suad a ingressar no Grupo de Psicanálise de Ribeirão Preto, a atual SBPRP, onde passei pelos rituais de passagem a membro associado, depois para efetivo e didata, onde sempre recebi caloroso acolhimento, cultivando com os colegas dessa sociedade as mais fecundas e criativas relações de trabalho e amizade, com sentimentos recíprocos de confiança. Continuei como membro associado em São Paulo e dei continuidade às qualificações em Ribeirão Preto, um ambiente extremamente promissor de desenvolvimento, participando de atividades científicas e culturais, além do envolvimento com o Instituto de formação, fonte de revitalização da psicanálise. E acredito que essas experiências, de todos esses anos e que as mantenho lá, deram-me a oportunidade de estar nesses poucos anos com o GEP, oferecendo alguma contribuição para o seu desenvolvimento.

 

3 – O atendimento em clínicas de psicologia já sofreu muito preconceito há alguns anos. Pensou em desistir em algum momento por alguma dificuldade ou resistência da população?

R- Então Regina, volto ao tempo, para lhe responder a terceira pergunta. Desde o início na clínica, me fiz acompanhar de psicoterapia, depois análise e supervisão, trabalhando com crianças, adolescentes e adultos, com muito prazer na realização dessa tarefa, tanto na clínica privada quanto em hospitais e ambulatórios. E valorizo imensamente o trabalho na instituição, pois me ofereceu uma oportunidade ímpar de trabalhar com pacientes psicóticos, desenvolver uma capacidade de comunicação que muito ajudou-me na clínica particular.

Esse período foi, para mim, de tantas descobertas, de tanto trabalho, que os preconceitos da época, jamais abalaram minha fé na psicologia. Tanto que foi exatamente nesse período que, a convite do professor Paulette, que lecionava na medicina e na UNORP, universidade particular, colaborei com muito gosto com a documentação necessária para trazer o primeiro curso de psicologia para Rio Preto, fato que desagradou alguns dos poucos psicólogos da época, e evidentemente, trouxe muitos benefícios a outros, aos estudantes interessados e à cidade. Lá não cheguei a lecionar, pois o tempo de consultório e viagens me tomava inteiramente, na época com o curso em Campinas, de pós-graduação, mas muitos de nossos colegas foram professores do então recém-criado curso de psicologia. E hoje, muitos desses alunos são nossos colegas, psicólogos e psicanalistas. Então, paradoxalmente, frente às resistências da população, com a faculdade, abrimos as portas para uma maior aproximação da psicologia aos cidadãos. A meu ver, a abertura de um curso favorece o desenvolvimento dessa cultura. Muito tempo depois, a convite de nossa colega Heliete Gouveia, que lecionava na UNORP, dei aulas no curso de especialização em Psicanálise, organizado por ela. Nessa época, já contávamos com muitos psicólogos e um número expressivo de psicanalistas em Rio Preto.

 

4 – Pode traçar as mudanças que ocorreram na clínica, com abordagens psicanalíticas, do início da sua carreira até o momento?

R- Desde o meu início na clínica, mudanças em minha abordagem ocorreram, sim, e acredito que, por um lado, em razão de minhas buscas como pessoa e profissional e, por outro, a evolução da própria psicanálise que dentro de minhas possibilidades sempre tentei acompanhar. No início da clínica, trabalhei com o conjunto de conhecimento adquirido até então com técnicas psicoterápicas, psicodiagnóstico usando especialmente os testes projetivos, orientação vocacional, até mesmo psicomotricidade, psicopedagogia e terapia comportamental. Com o meu desenvolvimento pessoal em análise, supervisão analítica e cursos voltados para a técnica analítica fui direcionando o trabalho para a psicoterapia analítica e com a formação psicanalítica, a psicanálise.

Sobre a abordagem psicanalítica, que é o foco de sua pergunta, o essencial do método analítico, ou seja, a associação livre e a atenção flutuante, a intimidade com o inconsciente, as questões transferenciais e contratransferências, são fundamentos que se sustentam a despeito da evolução da psicanálise. E quando iniciei a clínica, juntamente com minha psicoterapia analítica e supervisão, essas bases que senti na experiência pessoal foram naturalmente transportadas para a minha clínica, com forte influência das teorias freudiana e kleiniana. Depois, quando iniciei minha análise com Dr. Junqueira, ele havia recém-chegado de sua análise com Bion, então tive a oportunidade de uma experiência analítica com forte base bioniana, proposta que vinha florescendo naquela época, que se mantém vitalizada até os dias de hoje e mais difundida ainda. Então, desde 1980, venho nessa direção de pensamento e trabalho, integrando especialmente o pensamento freudiano, kleiniano e bioniano, com as evoluções que foram ganhando ao longo do tempo. E o fato de me manter em contato com a Sociedade de Ribeirão Preto, na qual o pensamento bioniano tem uma influência especial, venho, dentro de minhas possibilidades, acompanhando a expansão desse pensamento através de autores contemporâneos que auxiliam na compreensão dessa complexa teoria.

 

5 – Dos autores contemporâneos, qual ou quais você se identifica mais? Por quê?

R- Sobre os autores contemporâneos, digo-lhe que gosto de Ogden, especialmente o conceito de terceiro analítico, além do que nos ajuda imensamente na compreensão de questões kleinianas e bionianas; James Grotstein, que amplia o vértice bioniano, especialmente nas questões sobre o inconsciente, bem como Michel Eigen, que conjuga as ideias bionianas e a mística, e Meg Harris Willians, cuja integração da psicanálise e estética expande a compreensão das teorias de Bion e Meltzer. E embora não conheça com profundidade o pensamento winnicotiano, acompanho com muito interesse a obra de Christopher Bollas. Gosto de acompanhar o Livro Anual de Psicanálise e outras revistas psicanalíticas, pois ali encontramos o que há de mais novo no pensamento psicanalítico, com autores de diversos lugares do mundo.

 

6 – Acredita que esses novos autores ainda conversam com a origem da Psicanálise, na linguagem Freudiana, ou desvirtuaram o legado de Freud?

R- Alguns autores contemporâneos, a meu ver, tomam Freud como ponto de partida e seguem direções diversas, outros dialogam com o legado de Freud, no sentido do pensamento psicanalítico desde Freud, ampliando Klein, Winnicott e Bion, por exemplo. Aprecio acompanhar os autores franceses que se dedicam ao tema do mal-estar da civilização e da psicossomática. Por exemplo, um autor que classifico como contemporâneo é André Green, que dialogou profundamente com o pensamento freudiano e o ampliou. Agora, a despeito da importância dos contemporâneos, as obras canônicas - e aqui uso uma definição para o canônico, de acordo com Harold Bloom, que são as obras que exigem releitura – volto regularmente, por predileção à Freud, Klein e Bion, pois há sempre algo precioso a ser ali descoberto ou redescoberto, entretanto, isso depende sempre de nossas pesquisas e interesses atuais.

 

7 – Desde que cheguei em São José do Rio Preto para participar de grupos de psicanálise, em 1992, vejo sua participação ativa neles; não somente em São José do Rio Preto como em Ribeirão Preto. Qual sua participação neles e o que te motiva?

R- Todas essas referências de leitura e conhecimento me incentivam sobremaneira, mas o convívio com colegas, a troca de ideias, o conhecimento partilhado é fundamental e o contato com grupos é uma experiência de vitalização para o próprio desenvolvimento da psicanálise e de nós analistas. Essa relação com o outro é imprescindível na psicanálise. Participei aqui em Rio Preto de grupos, até aproximadamente vinte anos, difundindo com colegas a psicanálise, quando o Núcleo de Psicanálise que criamos com alguns analistas, permaneceu por alguns anos e foi interrompido. Então, por força do destino, passei a me dedicar ao grupo de Ribeirão Preto, onde mantenho, por vinte e sete anos esse convívio e continuarei mantendo ali minhas relações afetivas e científicas. E há três anos retomei meu contato em grupo aqui em Rio Preto, quando da criação do GEP, a convite de colegas interessados nessa organização. E me vejo mais uma vez entusiasmada a me desenvolver com o grupo, usufruindo do contato afetivo e científico dos colegas e também colaborando. O que particularmente me motiva é o pensamento psicanalítico teórico-clínico e o compromisso de dar continuidade a ele, podendo difundi-lo, já que sabemos quão imprescindível é levar esse conhecimento adiante. A organização de um grupo com tal propósito é fundamental, tanto que esse grupo, o GEP, caminhou com muito afinco e responsabilidade para a criação do Instituto de formação, lugar de revitalização e transmissão da psicanálise. Aqui, atualmente, minha colaboração está mais voltada às tarefas do Instituto.

 

8 – Você se considera uma pioneira na região no que se refere a uma mulher sendo e atuando como psicanalista?

R- Compreendo a palavra pioneira no sentido de precursora e como lhe disse antes, essa função foi muito bem vivenciada e desenvolvida pelo nosso querido Aldonio, que levou a psicanálise para além da clínica, às comunidades dos mais distantes territórios. Apenas, fui a primeira mulher aqui a fazer a formação psicanalítica, me tornar membro associado e posteriormente, em Ribeirão Preto, efetivo e didata, mas não tive aqui esse papel de anunciar e trazer o novo a essas terras já desbravadas. Sempre trabalhei transmitindo a psicanálise, fui à várias cidades levando o pensamento psicanalítico, mas sempre onde ele já havia chegado. Então, Regina, aqui, fui a primeira mulher psicanalista, mas não me considero pioneira. Sobre a nona pergunta, sim, a psicanálise tem ainda um grande potencial a se realizar e se atualizar e as Sociedades e Institutos de Psicanálise estão se mobilizando na direção da psicanálise solidária, implicada, na comunidade.

 

9 – Tem alguma ideia do que a Psicanálise ainda poderia se atualizar?

R- O pensamento psicanalítico dialoga com a cultura desde sempre e ele é parte da cultura. Agora, além da fundamental contribuição desse pensamento à constituição da subjetividade, é a dimensão social dele que está sendo expandida, o engajamento social, um compromisso ético, humanitário, conforme Freud acreditava, que todo indivíduo deveria se beneficiar da psicanálise.

Há algo que gostaria de ressaltar sobre a relação da psicanálise e a cultura, que é a de que quanto mais nós psicanalistas pudermos dialogar com os outros saberes, mais estaremos aptos a lidar com a vida, com a clínica, com a comunidade. Como já vivenciado por muitos de nós, a mitologia, a filosofia, a história, a antropologia, a ciência, a literatura, as artes, enquanto interfaces da psicanálise, se constituem em vasto repertório a nos possibilitar uma relação de maior fé com a vida humana. Não podemos prescindir das conquistas da humanidade, a psicanálise é uma das grandes descobertas que precisa estar em diálogo permanente com as outras. Esse é um trânsito necessário ao psicanalista.

 

10 – Vivemos uma Pandemia, o inimaginável aconteceu, a psicanálise saiu do divã e teve uma nova configuração nos atendimentos on-line. Como foi para você viver este momento? O que te assustou no início? O que te surpreendeu no percurso?

R- Antes da pandemia, considerava impensável um trabalho analítico nos moldes online, embora acompanhasse em supervisão não oficial algumas situações psicoterápicas com bom andamento. Mas as tinha como exceções. Então, no início da pandemia, aguardei alguns dias para me entender melhor com essa circunstância catastrófica, até que comecei a fazer uso dessa técnica e me surpreendi com a possibilidade do uso do método analítico nessa circunstância e, de acordo com minha experiência e de muitos, o resultado tem sido satisfatório e, em alguns casos, surpreendentemente favorável. Então, venho pensando em quão flexível pode ser a técnica, desde que consigamos manter o método analítico de investigação. E para concluir, gostaria de dizer que presencialmente ou no modo online, análises e reanálises são imprescindíveis ao psicanalista, especialmente, àquele que pretende se dedicar às funções didáticas da formação psicanalítica.

Muito obrigada Regina, pela deferência e carinho.

Abraço,

Maria Aparecida

 

- Regina Lúcia Vicente Pereira, Jornalista, Psicanalista e Membro Associado da SBPSP e Membro do GEP-São José do Rio Preto e Região.

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