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Por HELIETE REGINA GOUVEIA

Membro do Grupo de Estudos de Psicanálise de São José do Rio Preto e Região

“Um irmão pode não

ser um amigo, mas um amigo

será sempre um irmão.”

(Demétrio de Falero- filósofo da Grécia Antiga )

O tema da amizade foi pouco explorado pela teoria psicanalítica, embora tenha função essencial em todas as etapas da vida. A palavra “amigo” nasce de uma raiz grega da qual se origina também a palavra amor. O amigo também nasce dos vínculos entre irmãos, vínculos que têm origem na infância, que deixam marcas indeléveis e, frequentemente, servem de guia para algumas escolhas durante toda a vida.


Freud, em seu trabalho “Sobre a psicologia do colegial” (1914/1980), destaca a importância que os pais e irmãos exercem nas escolhas posteriores, das amizades e dos vínculos de amor. Ele diz: “A psicanálise nos ensinou, com efeito, que as atitudes afetivas ante outras pessoas, tão relevante para posterior conduta dos indivíduos, foram estabelecidas numa época incrivelmente precoce” (pp 248-249).


Mas, o amigo, diferentemente do irmão, em que prevalece, muitas vezes, rivalidades infantis, não busca comparar o outro à própria imagem, mas sim, abrigá-lo com confiança como estrangeiro.


A amizade também não é imposta por laços consanguíneos. Assim como os vínculos de amor, acontece. Não é um ato da minha vontade, não decido ser amigo, é algo que se dá em mim, é um pacto de gratuidade, um se deixar escolher, uma disponibilidade, uma entrega. Ela é constitutivamente, desinteresse e gratificação. Posso até buscar depois explicações e motivações, mas sobre algo que já aconteceu.


Ela representa uma das formas de amor em que predomina, acima de tudo, os vínculos de ternura que criam laços, singulares e sólidos, entre os seres humanos e, como toda forma de amor, tem a capacidade de fecundar.


A amizade é uma transferência positiva, uma relação simétrica, próxima, na qual alguém me escolhe “sem me fazer seu”, o que a diferencia do amor de casal, não há fusão, e sim, uma intimidade que inclui a distância. É uma relação comprometida com a verdade, com a franqueza, a crítica e o dever moral, ao invés da falsidade, da persuasão e da adulação. Não existe relação de poder na amizade, não há submissão de um ao outro. Nietzesche (2009) pergunta: “És um escravo? Então não podes ser amigo. És um tirano? Então não podes ter amigo”.


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