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A tecnologia e a Família

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Por MARLY TERRA VERDI

Membro do Grupo de Estudos de Psicanálise de São José do Rio Preto e Região



A família toda em nossos dias inevitavelmente usam a tecnologia, seja por meio dos aparelhos eletrodomésticos que utilizamos em casa, seja com os celulares e computadores que nos dão acesso ao mundo virtual.


O mundo virtual é o mundo que existe por meio destes aparelhos, mas que não é o real, pois só existe na tela, ou através de algum aparelho e que pode, dependendo da pessoa que usa, ser confundido com o mundo da realidade. As crianças ou adultos com dificuldades no imaginar terão uma tendência a confundir estes níveis de realidade, a real e a virtual.


Estou, neste momento em que escrevo sobre isto para conversar com vocês, num aeroporto. Tenho na minha frente quinze pessoas e somente duas não estão usando um telefone celular neste exato momento em que reflito sobre estas questões.


Portanto, não teremos volta, será daqui pra frente, o convívio com este aparelho, que vai mediar nossa vida cotidiana. E pensar que o celular existe há trinta anos e que nós só tivemos mesmo acesso a ele há vinte anos. Mas chegou para ficar assim como a geladeira, o fogão a gás e outros aparelhos que a tecnologia criou.


Mas que fenômeno é este no ser humano que o faz se apegar tanto aos aparelhos e parece preferir viver e ser dependente de próteses que facilitem o viver? Parece que sempre queremos facilitar para aparentemente termos mais tempo e vivermos mais felizes.


Parece, entretanto, que agora consumimos nosso tempo com os aparelhos que facilitariam nosso tempo. Preenchemos qualquer minuto com os nossos celulares, com WhatsApp, Facebook, Instagram. E nossa preocupação mais humana é e será sempre com o amar e com o sermos amados. Agora com amores e contatos virtuais.


Voltando ao problema dos que ainda não tem capacidade de imaginar e podem confundir o virtual e o real, veremos alguns acreditarem demais nos vínculos e amores virtuais e abandonarem ou perderem por isso amores reais. Quantos namoros e casamentos hoje são desfeitos porque um dos cônjuges se apaixonou virtualmente por outra pessoa ou mesmo foram descobertos trocando mensagens com alguém?


As crianças que ainda estão construindo sua imaginação podem confundir os jogos virtuais e os considerarem reais já que provocam sentimentos, como medo, raiva, revolta etc. Desta forma, diferente da geladeira que é feita para gelar e gela e mesmo do telefone que nos fazia falar com alguém que estava lá e te ouvia e respondia. Hoje a virtualidade nos traz situações que não são sempre de verdade, pois são virtuais. E, virtual e real são coisas muito diferentes.





A realidade virtual nos fascina, pois a mente sempre criou realidades virtuais. Nosso pensamento não materializa coisas, mas é o primeiro passo para criar comportamentos e mesmo todas as criações que o ser humano fez e foram inúmeras. Mas até bem pouco tempo só a nossa mente e suas criações eram virtuais. A realidade externa era para nós sinônimos de realidade.


Hoje com a tecnologia dos computadores, da internet e dos jogos a realidade virtual foi criada externamente e nós ainda estamos nos habituando a isto. Por isto vemos tantos distúrbios de comportamento relacionados a isto do encontro com a virtualidade. Vemos os jogos de guerra, por exemplo, criando violência real e redes que incentivam pessoas a agir em diversos campos, com sucesso. Somos influenciáveis e a virtualidade parece nos influenciar bastante. Talvez ainda estejamos nos adaptando para perceber a diferença entre nossos pensamentos e sentimentos que são próprios e aqueles criados a partir do mundo virtual.


Os pais devem ajudar as crianças a aprenderem a discriminar entre estas duas coisas: seus próprios pensamentos e sentimentos, e aqueles criados a partir do mundo virtual. Aquelas que discriminarem melhor estarão mais seguras em perceber a diferença de seus próprios pensamentos, desejos e sentimentos, daqueles vivenciados por elas, a partir de jogos e experiências virtuais. Nós adultos também precisamos estar atentos a isto e não nos deixarmos arrastar pelo virtual em detrimento de experiências e vínculos reais.


Pensamentos e sentimentos podem ser vividos de diversas maneiras. Quando vemos um filme, por exemplo, nos emocionamos e nos identificamos com os atores e seus personagens, mas podemos melhor discriminar que não se trata de realidade. Mas quando o cinema começou, as pessoas corriam para fora das salas de projeção se uma onda, ou um trem, vinham na direção da plateia, suas mentes não acostumadas com imagens em movimento, não discriminavam ainda um filme da realidade. Podemos estar vivenciando algo bastante semelhante.


Estamos nos tornando seres cada vez mais tecnológicos e ouvimos ficções sobre robôs que disputariam conosco pelo domínio da terra. Precisamos pensar seriamente em não robotizarmos nós mesmos, perdendo parte de nossa sensibilidade e confundindo nossa sensorialidade.


Nossa vida mental depende dos vínculos e do amor para que nos humanizemos. Com a tecnologia atual e, principalmente o uso dos computadores e aparelhos celulares as pessoas têm tido mais fascínio por estas máquinas do que por seus semelhantes. Seriam traços da nossa robotização começando a surgir talvez no horizonte humano.


Vejo muitas vezes hoje por todas as partes os pais preferindo contato com seus aparelhos que com seus filhos, e dando muito precocemente celulares aos pequenos para que não os atrapalhem nisto. Que valor darão as crianças de hoje ao contato real com pessoas no futuro se estão sendo verdadeiramente treinadas ao uso das máquinas, mas não ao convívio humano amoroso?


Cada época teve um tipo de convívio com as crianças, na Idade Antiga elas também não tinham muito a consideração amorosa dos adultos, talvez advindo desta situação a paixão pela guerra era sempre presente e a vida não parecia ter muito valor. Hoje prezamos a paz, mas quando iremos entender que a verdadeira paz virá da amorosidade com nossos semelhantes?


A capacidade de amar, tal como está bastante comprovado pela psicologia e pela psicanálise, vem da estreita ligação entre os bebes e suas mães. Como fazer numa época em que as mães se sentem mais inclinadas as suas próprias necessidades e mesmo aos seus celulares? Talvez, de fato, estaremos cada vez mais nos robotizando e não sabemos bem o que advirá disso para nós, os humanos.





Depois de refletir sobre a influência da Tecnologia e da Virtualidade vamos levantar os aspectos positivos destas em nossa vida.


Temos, com a tecnologia atual, desenvolvido condições para viver mais e melhor, a tecnologia propiciou a descoberta de muitas formas de exames, intervenções e tratamentos clínicos e cirúrgicos que tem de fato ampliado a sobrevivência de muitos.


O nosso interesse pela tecnologia da comunicação vem das possibilidades de permitir contato a distância fazendo o mundo se tornar mais compartilhável para todos. Neste momento podemos ter a televisão levando suas imagens a lugares distantes e permitindo dialogar com pessoas muito diferentes em vários lugares do país.


A internet permitiu que em tempo muito curto possamos chegar a qualquer lugar do mundo. Paradoxalmente permite tanto contato e comunicação como nunca vivido pelos seres humanos.


Lembro-me na minha juventude de um livro de muito sucesso que se chamava "Eram os Deuses Astronautas" que mostrava diversos lugares do mundo que tinham registro de coisas incríveis construídas num passado distante. Me fascinava conhecer coisas tão surpreendentes por meio das fotos daquele livro.


Hoje, vemos programas onde estes lugares e muitos outros nos são mostrados todos os dias. E já não nos surpreendemos como antes com coisas tão incríveis.


A tecnologia trouxe o fantástico para a nossa vida cotidiana e isto não para de progredir. Eu que acredito que temos uma capacidade de conhecimento que nos leva sempre mais e mais longe creio que as descobertas humanas são formas de desenvolver esta nossa capacidade.


Penso que o homem não deve se fascinar tanto com suas criações tecnológicas, pois isto talvez signifique o desejo do homem de que Deus também se fascine com suas criaturas.

Nunca devemos esquecer o amor e que a principal tarefa do homem é desenvolver-se amorosamente, se cuidarmos bem desta nossa tarefa, realizaremos e usufruiremos cada vez melhor da tecnologia.


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